STF E OS GRAMPOS.

Policial nega grampo no STF, mas deputados apontam coincidências
Luiz Alves

O relator, Nelson Pellegrino, e o presidente da CPI, Marcelo Itagiba, interrogam o sargento Jairo Martins, que negou ter grampeado o STF.
O 3º sargento da PM do Distrito Federal Jairo Martins de Souza negou aos integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Escutas Telefônicas Clandestinas que tenha tido qualquer participação no vazamento de gravações feitas entre o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), e também na Operação Satiagraha.O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), porém, afirmou que é possível identificar os mesmos personagens e modos de atuação de duas outras ações investigadas pela Câmara nos últimos três anos: o processo de cassação do então deputado André Luiz (sem partido-RJ) e a CPMI dos Correios.ExtorsãoDe acordo com Fruet, Jairo Martins de Souza fez as gravações que incriminaram o ex-deputado André Luiz. O deputado foi acusado de tentar extorquir R$ 4 milhões do empresário de jogos Carlos Augusto Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira. O objetivo seria livrá-lo de indiciamento pela CPI da Loterj, realizada pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.O policial também admite que foi ele que montou a maleta com que foi feita a gravação do pagamento de suborno ao servidor público Maurício Marinho, fato que deu origem à CPMI dos Correios."Já na época ele trabalhava com o 3º sargento do Centro de Inteligência do Comando da Aeronáutica Idalberto Martins de Araújo", observa o deputado. Ele afirmou que essas pessoas têm em comum também o fato de trabalharem na área de inteligência, mas não assumirem essa posição.RecrutamentoDurante seu depoimento, Martins de Souza afirmou que entrou na PM em 1989. A partir de 1993, foi convocado para a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), onde ficou 9 anos. Ele disse que nunca trabalhou com escutas, sendo especialista em recrutamento.Depois dos episódios das escutas, o policial ressaltou que sua vida foi muito prejudicada e que sofreu ameaças, Por isso, afirmou, "jamais me envolveria outra vez nesse tipo de operação".O policial, porém, reconheceu que é muito amigo do sargento Idalberto e que conheceu o ex-agente do Serviço Nacional de Informações (SNI) Francisco Ambrósio Nascimento e o agente Jerônimo Jorge da Silva Araújo durante seu período na Abin.Martins de Souza também afirmou à CPI que é amigo de jornalistas, entre eles Policarpo Júnior, autor das reportagens sobre a Assembléia carioca, a corrupção nos Correios e o grampo no STF, todas para a revista Veja. Ele atribui suas boas relações com a imprensa ao fato de também ser jornalista de formação.Arrumar um culpadoO relator da CPI, deputado Nelson Pellegrino (PT-BA), destacou que o policial foi convocado a depor porque seu nome foi sugerido como o responsável pela interceptação no STF durante reunião do Gabinete de Segurança Institucional, justamente por suas relações.O policial disse não ter ideia do porquê dessa suspeita, mas disse que é provável que a pressão tenha levado autoridades a arrumarem um culpado. Ele disse que os outros vazamentos foram feitos porque ele achava que seria uma contribuição à sociedade brasileira mostrar tudo aquilo que as pessoas comentam que acontece nos bastidores, mas nunca é revelado.

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